
MECANISMOS FARMACOLÓGICOS
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Efeito Arrítmico
Efeito Antiarrítmico
Efeito Vasodilator
Efeito Analgésico
Efeito Antiepilético
Ações nos recetores colinérgicos nicotínicos
Efeito anti-microbiano
Efeito citotóxico
Curiosamente, contrariando a cardiotoxicidade associada a esta planta, vários estudos têm sugerido que o acónito pode prevenir ou influenciar positivamente doenças cardiovasculares. Como é o caso de um estudo realizado no Japão, em de um total de 24 pacientes, 11 foram tratados com fórmulas contendo acónito, enquanto que os restantes 13 não, e se observou que os níveis plasmáticos de NO2 e NO3 eram significativamente superiores no primeiro grupo. Estes resultados parecem sugerir que o acónito pode aumentar a produção de NO e, consequentemente, melhorar a circulação sanguínea periférica, prevenindo assim o enfarte de miocárdio [4].
Esquema 2 - Possível efeito cardioprotetor do acónito.
Figura 2 - Estrutura química da aconitina.
Grupo α-aroíl
Grupo β-acetato

Grupo β-hidroxilo


Aberto
Fechado
(inativado)
Fechado
(em repouso)
Fechado
(inativado)
Na+
Na+
Na+
Na+
Na+
Alcalóides inibem a ativação de canais de sódio dependentes de voltagem
Repolarização
Despolarização
Esquema 1 - Mecanismo de ação de alcalóides do acónito antiarrítmico (bloqueio dos canais de sódio dependentes da voltagem).
EFEITO ARRÍTMICO
O potencial arritmogénico ocorre devido à actuação dos alcalóides nos canais de sódio dependentes de voltagem, sendo a aconitina a que possui um potencial maior. Os alcalóides que têm esta característica, ligam-se no NBS-2 (neurotoxin binding site-2) do canal e, após ligação, vão ativar os canais de sódio quando estes estão em repouso e vão impedir a sua inativação [6].
Sabe-se que o potencial arritmogénico dos alcalóides depende dos substituintes que possuem. É necessário existir um grupo β-hidroxilo no C13, um grupo α-aroíl no C14, um grupo β-acetato no C8 e um átomo de azoto carregado positivamente [6].
EFEITO ANTIARRÍTMICO
Alcalóides com potencial anti-arritmógenico incluem: lapaconitina, N-desacetil-lapaconitina, 6-benzoil-heteratisina e GFA (Guanfu base A).
Os alcalóides do acónito antiarrítmicos podem atuar de duas formas: inibindo os canais de sódio dependentes da voltagem (funcionam como antagonistas competitivos em relação aos alcalóides de acónito pro-arritmogénicos) e/ou bloqueando a corrente de potássio de repolarização [6].
Os alcalóides antiarrítmicos têm alguns elementos estruturais em comum: presença de resíduo de ácido antranílico ou acetilantranílico no C4, grupos metoxi no C1, C14, C16 e grupo OH no C8 [6].
EFEITO VASODILATADOR
EFEITO ANALGÉSICO
Alcalóides que ativam os canais de sódio dependentes de voltagem são antinocipetivos e têm o potencial de provocar uma despolarização permanente dos neurónios, causando um bloqueio na condução nervosa. Bloqueadores destes canais têm atividade antinocicetiva, inibindo a atividade neuronal [6].
A eficácia analgésica de extratos de várias espécies de acónito como de compostos isolados foi comprovada em vários estudos utilizando modelos animais, tendo-se verificado que esse efeito ocorre não só a nível do sistema nervoso central, mas também a nível do sistema nervoso periférico. A utilização do acónito para este fim, ainda é questionável, apesar do seu efeito analgésico ser conhecido, uma vez que a janela terapêutica é muito estreita [6].
EFEITO ANTIEPILÉTICO
Os canais de sódio estão envolvidos na génese dos episódios epiléticos. Estudos revelaram que o efeito anti-epilético de alcalóides diterpénicos ocorre devido a um bloqueio destes canais. Para além disto, a presença de um substituinte aromático é essencial para a atividade anti-epilética, sendo os alcalóides mais conhecidos, por terem um elevado potencial anti-epilético : a benzoilheteratisamina, a 1-benzoilnapelina, a lapaconitina e a 14-benzoiltalatisamina. No entanto, verificou-se que alguns alcalóides possuem na mesma esse tipo de atividade por ativação dos canais de sódio: a aconitina e a 3-acetilaconitina suprimem completamente a atividade neuronal epilética bem como a atividade neuronal normal, após um estado de hiperexcitabilidade transiente [6].
Em contraste aos alcalóides antiepiléticos, a songorina aumenta a excitabilidade dos neurónios a nível do hipocampo do rato. Foi conjeturado que este efeito advém do facto de ser agonista dos receptores D2. No entanto, estudos mais recentes indicam que a songorina inibe não competitivamente os receptores GABA enquanto que os alcalóides atuam num local distinto do sítio de reconhecimento do GABA. Alcalóides diterpénicos que atuam em recetores GABA podem ter um papel essencial na investigação de recetores e fármacos agonistas GABA [6].
AÇÕES NOS RECETORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS
A α-bungarotoxina é um antagonista competitivo e irreversível dos receptores do tipo muscular e do tipo (α7)5 [6].
A metil-licaconitina é o antagonista dos recetores nicotínicos do tipo α7 mais selectivo que se conhece e atua, bloqueando de forma reversível a ligação da [125I]-α-bungarotoxina, ou seja liga-se ao mesmo sítio que esta e da mesma forma, inibindo competitivamente a ativação dos canais nicotínicos por parte do seu ligando natural, a acetilcolina. Estudos detalhados revelam que se liga preferencialmente a recetores neuronais em detrimento de recetores no músculo ou cérebro, o que é característico de vários alcaloides diterpenicos [6].
A metil-licaconitina, uma molécula pequena que consegue passar a barreira hemato-encefálica, e alcalóides diterpénicos seletivos para recetores colinérgicos nicotínicos α7 são ferramentas úteis em investigações a nível da neurobiologia [6].
OUTROS EFEITOS
Para além dos efeitos a nível cardíaco e a nível do sistema nervoso central, existem alguns estudos que têm como objetivo avaliar outros possíveis efeitos, de compostos isolados a partir das raízes do acónitono, organismo humano: atividade antimicrobiana e potencial anti-tumoral [6].
EFEITO ANTI-MICROBIANO
Foram feitos estudos in-vitro onde se testaram diversos alcalóides, com o objetivo de avaliar para cada um, a sua atividade antimicrobiana, isto é, o potencial inibitório de crescimento microbiano [6].
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Num primeiro estudo, testou-se a atividade antiparasitária, contra Leishmania infantum, de 43 alcalóides diterpénicos do tipo atisina, em ambas as fases extracelular e intracelular do parasita. De todos os compostos testados, verificou-se que 3 alcalóides apresentaram uma atividade inibitória do crescimento parasitário semelhante ao fármaco de referência, sem exercer toxicidade para as células do hospedeiro [6].
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Em outra investigação, avaliou-se o potencial de inibição do crescimento de Trypanossoma cruzi de 64 alcalóides. Verificou-se que dois deles foram eficazes em inibir o crescimento de formas epimastigotas, sem toxicidade para as células hospedeiras [6].
EFEITO CITOTÓXICO
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A atividade citotóxica de alcalóides diterpénicos em células normais foi estudada inicialmente para verificar o potencial destes compostos como repelentes de insectos. Contudo, verificou-se que apenas alguns destes apresentaram um efeito citotóxico seletivo contra celúlas Sf9 de insecto [6].
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Observou-se que a 10-oxocardiopetamina foi citotóxica para células de mamíferos [6].
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Verificou-se que frações do extracto da raiz de Aconitum karakolicum, uma planta tradicionalmente usada como anticancerigeno no Quirguistão, apresentaram efeitos antiproliferativos em linhas celulares de células tumorais [6].
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8-O-azeloil-14-benzoilaconina é um alcalóide ditepénico bastante reconhecido por apresentar uma citotoxicidade em células tumorais [6].
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Foi feito um estudo que avaliou o potencial citotóxico de 43 alcaloides diterpénicos em várias linhagens celulares, tumorais e não tumorais. Verifou-se que 12 deles exibiram citotoxicidade seletiva para células cancerígenas [6].
[4] Singhuber, J., Zhu, M., Prinz, S., Kopp, B. (2009) Aconitum in Traditional Chinese Medicine—A valuable drug or an unpredictable risk?. Journal of Ethnopharmacology 126: 18-30.
[6] Nyirimigabo, E., Xu, Y., Li, Y., Wang, Y., Agyemang, K., Zhang, Y. (2015) A review on phytochemistry, pharmacology and toxicology studies of Aconitum. J Pharm Pharmacol. 67: 1-19.